Eurípedes Barsanulfo foi um médium, educador, político, jornalista e pioneiro do Espiritismo na cidade de Sacramento, em Minas Gerais. Eurípedes, além de ser dotado de vários talentos notáveis para um cidadão de família humilde do interior de Minas Gerais, destacou-se por apresentar bastante precocidades nas suas conquistas, atuando na assistência mais ampla às pessoas desde os seus 18 anos de idade.

A sua história é muito interessante para os que têm interesse em conhecer personalidades que se dedicaram a ajudar aqueles que lhe pedem socorro desde cedo na sua existência. No entanto, ele deixou esta vida muito cedo, com apenas 38 anos de idade. Vamos conhecer um pouco mais sobre sua história?

Eurípedes Barsanulfo
Fonte: Equipe de Estudos CELD

Nascimento e infância

Eurípedes Barsanulfo nasceu na cidade de Sacramento, Minas Gerais, no dia 01 de maio de 1880. Ele foi o terceiro filho do casal Jerônima Pereira, mais conhecida como Dona Meca, e Hermógenes de Araújo, conhecido como Seu Mogico.

Nascido em família bastante católica, foi criado neste contexto religioso. Sua família era muito simples e como era comum naquela época, muitas vezes passavam por dificuldades financeiras. Eurípedes desde muito cedo apresentava uma tendência a procurar conhecimento, e mesmo sem ter acesso a educação formal, vendia peixes para comprar livros e assim aprendeu a ler.

Quando sua família melhorou suas condições financeiras, ele teve acesso a educação formal, primeiramente na escola primária do Sr. Joaquim Vaz de Melo, e após, no Colégio Miranda, do Prof. João Derwil de Miranda. O Colégio Miranda era uma das instituições mais inovadoras de ensino que haviam na cidade de Sacramento em MG naquela época.

Prática da assistência desde cedo

Ele era um aluno de destaque de sua turma, e isso fazia com que os professores o colocasse para ensinar aos alunos com maior dificuldade. Normalmente os professores passavam as lições para a turma e os alunos que tinham mais facilidade de compreensão e desenvoltura no que era ensinado, acabavam ficando responsáveis por ensinar aqueles que não tinham esta mesma facilidade.

O interesse de Eurípedes em se dedicar a assistência também despertou cedo em sua vida: ele abriu em sua casa uma farmácia homeopática aos 18 anos de idade, com o conhecimento que adquiriu dos livros de um tio seu que era médico. Também foi co-fundador da Irmandade São Vicente de Paulo aos 19 anos de idade. Esta instituição fazia parte da Igreja Católica de Sacramento e era destinada a assistir aos pobres.

Múltiplos talentos de Eurípedes Barsanulfo

Aos 21 anos de idade ele se tornou um dos redatores do jornal Gazeta de Sacramento; e aos 22 anos, vereador da cidade de Sacramento. O seu engajamento com relação à população carente da cidade se mostra notável e precoce.

Eurípedes apresentava uma tendência ao processo da medicina, e ao concluir seus estudos no Colégio Miranda, ele e seu pai Seu Mogico estavam planejando que ele fosse para a faculdade de Medicina no Rio de Janeiro. A vontade de Eurípedes em se dedicar a medicina se devia a sua mãe, Dona Meca, a qual sofria de desmaios inexplicáveis constantemente. Eurípedes tinha o sonho de curar sua mãe.

Porém, ele nunca veio a conseguir se formar em Medicina, ao que tudo indica, isso ocorreu devido ao medo que ele tinha em deixar a sua mãe de saúde frágil sem a sua ajuda em Sacramento. Após este ocorrido, em 1902, com 22 anos de idade, Eurípedes fundou junto com seus antigos professores, o colégio Liceu Sacramentano, no qual passou a se dedicar a lecionar diversas matérias pertinentes ao ensino fundamental e médio daquela época.

Contato do Eurípedes Barsanulfo com o Espiritismo

O seu contato mais forte com o Espiritismo veio a ocorrer em 1905 através do seu tio, Mariano da Cunha, mais conhecido como Sinhô Mariano. O Sinhô Mariano foi convertido ao Espiritismo pelo dono da fazendo de Santa Maria, local onde residia. O casarão em que morava na fazenda era palco de vários fenômenos parapsíquicos, o que perturbava os seus moradores.

Quando o dono da fazenda teve conhecimento destes acontecimentos, esclareceu a família do Sinhô Mariano para o fato de que os membros de sua família eram parapsíquicos, o que ocasionava tais fenômenos. Quando o Sinhô Mariano e sua família começaram a dominar mais o seu processo parapsíquico, os fenômenos cessaram, de maneira que Sinhô Mariano se converteu e fundou nesse mesmo local o Centro Espírita Fé e Amor.

Eurípedes, assim como a maior parte da população sacramentana na época, não tinha muito conhecimento sobre o que se passava nas sessões espíritas e isso causava grande receio. Como era muito católico, achava que o seu tio estava indo por caminhos que Deus não aprovava. Em várias ocasiões, tentou convencer o seu tio de que seguir pelo caminho do Espiritismo era contra os escritos na bíblia.

No ano de 1905, Sinhô Mariano emprestou para Eurípedes o livro Depois da Morte, de Léon Denis. Eurípedes, após a leitura deste livro, se encantou com a doutrina espírita. A convite de seu tio, ele foi participar de uma sessão espírita no Centro Espírita Fé e Amor em Santa Maria.

Nesta sessão, segundo os seus biógrafos espíritas, o espírito de João Evangelista entrou em possessão com um dos médiuns presentes, o Aristides, o qual era analfabeto. Por meio de Aristides, a consciex deu a mais completa explicação do Sermão da Montanha, trecho da bíblia que intrigava Eurípedes desde muito tempo, pois ele ainda não havia entendido o significado deste trecho. Eurípedes se encantou com esta explicação e este foi o seu momento de conversão a doutrina espírita.

Dificuldades após a sua conversão ao Espiritismo

Após a sua conversão, Eurípedes passou a desenvolver mais o seu parapsiquismo e também passou a sofrer represálias por parte da população sacramentana. O colégio Liceu Sacramentano aos poucos começou a sofrer grandes perdas de alunos, devido ao fato de que Eurípedes falava sobre Espiritismo para filhos de pais católicos.

Em 1907, em um momento de grande tristeza, relatam os biógrafos que Eurípedes recebeu, através de psicografia, uma mensagem de uma consciência extrafísica, aparentemente amparadora, que dizia para ele trocar o nome do Liceu Sacramentano para Colégio Allan Kardec, instituir um curso de Astronomia e ensinar o Evangelho todas as quartas-feiras pela manhã.

Assim, neste mesmo ano, Eurípedes funda em Sacramento o Colégio Allan Kardec, o primeiro colégio do Brasil baseado na pedagogia espírita. Neste colégio, além das aulas das ciências gerais, Eurípedes ministrava toda quarta-feira lições relacionadas ao Evangelho segundo o Espiritismo. O seu método pedagógico tinha muitas relações com Pestalozzi, apesar de não haver evidências de que Eurípedes estudou o seu método, o qual era inovador para aquela época.

Fenômenos Parapsíquicos de Eurípedes Barsanulfo

Além dessas realizações na área profissional, Eurípedes desenvolveu bastante o seu parapsiquismo na sua atuação no Espiritismo. Os seus fenômenos mais recorrentes eram: projeção consciente, psicofonia, psicografia, bilocação, clarividência viajora, entre outros.

Através da consciência extrafísica do Bezerra de Menezes, ele fazia receituários de medicamentos na farmácia que possuía, e realizava inúmeras curas e intervenções com esses medicamentos. A sua popularidade foi aumentando tanto que a cidade de Sacramento começou a ficar pequena. As pensões e pousadas da cidade viviam lotadas de enfermos buscando a assistência de Eurípedes.

Também existem diversos casos de Eurípedes indo a casa de pessoas enfermas, sem que as mesmas tenham sequer entrado em contato com ele. Parece que ele desenvolveu o seu parapsiquismo a ponto de saber aonde deveria ir e em qual horário, sem que fosse comunicado. É bom lembrar que naquela época não havia meios fáceis de comunicação assim como existem hoje. O primeiro telefone instalado no Brasil foi em 1877, então é provável que em 1907 ainda nem existia este meio de comunicação em Sacramento.

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Descarte do seu corpo físico e legado

A sua morte ocorreu em 1 de novembro de 1918, decorrente de gripe espanhola.

Ainda hoje os seus feitos são celebrados em Sacramento em comemorações de renascimento e descarte do corpo físico de sua personalidade, nas datas dos dias 01 de maio e 01 de novembro, todos os anos.

O colégio Allan Kardec não funciona mais como instituição de ensino, mas sim como museu e centro espírita Esperança e Caridade. O museu conta mais sobre a história de Eurípedes, sobre o colégio e também sobre sua principal biógrafa, que continuou o seu trabalho em Sacramento, Corina Novelino.

Porém em Sacramento existe a Escola Eurípedes Barsanulfo, uma instituição de ensino com amplo espaço físico, fundada em 1975, a qual aplica novas metodologias de ensino e tem como patrono o Eurípedes Barsanulfo. A escola foi idealizada por um aluno de Eurípedes, o Dr. Tomás Novelino.

Ainda hoje é discutido nesses espaços, no Colégio Allan Kardec e na Escola Eurípedes Barsanulfo, a pedagogia que Eurípedes aplicava enquanto professor do colégio. Esta autora teve a oportunidade de participar do Seminário de Educação do Espírito em 2018, no evento de 100 anos de dessoma do Eurípedes Barsanulfo.

Eurípedes Barsanulfo e a Inversão Existencial

A inversão existencial, ou invéxis, é a técnica de planejamento máximo desde a juventude, fundamentada na Conscienciologia, na qual o jovem pratica a assistência e procura desde cedo executar a sua missão de vida, a qual se propôs antes de nascer.

Pela definição da técnica da invéxis, já conseguimos perceber a sua relação com Eurípedes: ele foi uma personalidade que praticou assistência desde cedo em sua existência. A partir disso, podemos fazer algumas aproximações da vida de Eurípedes com a técnica da inversão existencial:

  • Quanto a sua precocidade: a técnica da invéxis propõe que o jovem procure ser precoce, sem ser precipitado, com relação as várias conquistas da vida humana. Eurípedes apresentou várias precocidades: fundou instituições assistenciais na juventude, fundou um colégio, o Liceu Sacramentano, com apenas 22 anos de idade, e também foi eleito vereador de sua cidade nessa mesma idade.
  • Quanto a sua assistencialidade: a invéxis propõe que o inversor invista na ajuda às outras pessoas desde cedo. Eurípedes desde sua infância assistia aos seus colegas na escola, ensinando os conhecimentos com os quais tinha facilidade. Além disso, fundou a pequena farmácia homeopática aos 18 anos em sua casa. Depois desses exemplos, atuou a sua vida inteira dedicado a assistência, realizando trabalhos de desassédio e prescrições de medicamentos a partir de Bezerra de Menezes.
  • Quanto o seu parapsiquismo: a invéxis propõe que o inversor invista no seu parapsiquismo o mais cedo possível. Eurípedes, ao ter contato com o Espiritismo aos 25 anos de idade, começou a ter manifestações parapsíquicas bem avançadas, e desenvolveu bastante a projeção consciente e a telepatia, com a qual se comunicava com a consciência extrafísica do Bezerra de Menezes.
  • Quanto a sua intelectualidade: a invéxis propõe que o inversor desenvolva a intelectualidade desde cedo, pois isso lhe dará uma bagagem maior para lidar com a inexperiência na vida humana que é característica dos jovens. Eurípedes apresentava um nível de intelectualidade acima da média para os conterrâneos de sua cidade. É possível constatar isso através da metodologia que empregava no seu Colégio Allan Kardec, o qual possuía matérias avançadas para a época, como Astronomia; e suas aulas tinham um conteúdo prático bem marcado: era comum que para se estudar botânica por exemplo, ele levasse os seus alunos para passearem no pátio do colégio, no qual era possível estudar através das plantas que lá estavam plantadas.
  • Quanto a sua comunicabilidade: a invéxis também propõe que o inversor domine a boa comunicação, para melhor fazer assistência às pessoas em sua volta. Através dos relatos de seus alunos é possível constatar que ele também dominava muito bem o processo comunicativo. Muitos lembram das lições que eles passavam com um carinho muito grande e relatam que eram dotadas de muita sabedoria. Também é possível verificar nas atas das reuniões dos vereadores da cidade de Sacramento os seus discursos frente às necessidades da cidade de Sacramento, que denotam uma oratória interessante.
  • Quanto a sua capacidade de desassédio: uma outra característica de Eurípedes que vale a pena destacar é sua capacidade de desassédio. São inúmeros os relatos de pessoas transtornadas ou em surto que ele conseguia acalmar a partir da exteriorização de suas energias. Além disso, ele tinha uma capacidade de cura muito grande. Existem diversos relatos inclusive de intervenções cirúrgicas, as quais estão presente na sua biografia “Eurípedes Barsanulfo: O Apóstolo da Caridade”. Na invéxis, o processo de desassédio também é muito importante para ser investido, pois vai garantir a autonomia da consciência e uma melhor consecução da sua programação de vida, sem grandes contrafluxos.

Eurípedes Barsanulfo foi um inversor existencial intuitivo?

A técnica da inversão existencial, por ser uma técnica, a qual possui um passo a passo, é melhor qualificada se aplicada intencionalmente. No entanto, podem existir personalidades que a aplicaram de maneira intuitiva, ou seja, seguiu esse passo a passo sem conhecer os pormenores da técnica. Esse é o caso da personalidade da Florence Nightingale, por exemplo.

Em alguns casos é difícil definir com segurança se tal personalidade pode ser considerada inversora intuitiva ou não. No caso de Eurípedes, ele teve várias convergências com a técnica, as quais foram expostas anteriormente. Ele também seguiu a maior parte das evitações que são propostas na técnica da inversão existencial, por exemplo: não casou, não teve filhos, não se envolveu com drogas, entre outros. No entanto, existe um elemento de sua vida que na minha visão exclui a possibilidade da aplicação intuitiva da inversão existencial: a sua morte precoce.

Eurípedes descartou o seu corpo físico decorrente da gripe espanhola que assolou o mundo no ano de 1918. No entanto, pelas suas biografias é possível constatar que por sua dedicação total a assistência aos mais necessitados, ele tinha uma negligência muito grande com a sua própria saúde: se alimentava mal, não tinha horas de sono suficiente, fazia atendimentos de madrugada e tinha excessivas atividades durante o seu cotidiano. Uma rotina tão atribulada quanto a dele, não garante uma vida saudável e longa. Logo, quando teve o contato com a doença, o seu corpo físico não era forte o suficiente para suportá-la.

Em algumas biografias essa negligência com o corpo é colocada como se fosse uma virtude: ele era tão “puro” que não se preocupava nem com ele mesmo. No entanto, não podemos romantizar essa condição. O cuidado com o corpo físico, com a saúde, é essencial para que consigamos completar toda a nossa programação de vida. Logo, essa também é uma preocupação importantíssima do inversor existencial. Na invéxis, a falta de cuidado com o corpo físico é algo a se evitar.

Outro ponto de divergência com a técnica no caso de Eurípedes foi o fato de não ter deixado nenhuma obra escrita. Infelizmente todo o conhecimento que temos hoje dele se baseia em relatos de pessoas que viveram na época, principalmente aqueles que foram os seus alunos. Ele não se dedicou à escrita, o que deixou uma lacuna principalmente relacionada aos seus métodos de ensino, que eram inovadores para a época, inclusive possuem estudos acadêmicos sobre ele até hoje, no entanto sabemos disso pelo que os seus alunos relataram nas biografias feitas após a sua morte.

Na invéxis, a escrita de obras são essenciais para a assistência ao maior número possível de pessoas e a condição de autorrevezamento, na qual a pessoa já deixa sua obra preparada para ser acessada numa próxima existência e assim facilitar as suas memórias do trabalho que precisa realizar.

A importância do estudo dessa personalidade

Porém independente dessas questões, é inegável dizer que Eurípedes Barsanulfo foi uma personalidade notável e com muitas qualidades que são interessantes estudar. O seu domínio do parapsiquismo, a sua assistencialidade e os seus múltiplos talentos podem ser estudados a fim de entender como ele conseguiu desenvolver essas capacidades e como podemos usar os seus exemplos positivos para nos desenvolver mais também em nossos desafios diários. E também não podemos ignorar a quantidade de aportes que temos hoje com relação aos aportes que ele teve naquela época, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais. O que ele fez com o pouco que tinha é realmente impressionante de se notar.

Nesse contexto é importante refletir: o que estamos fazendo atualmente para ajudar a humanidade com o conhecimento que temos? Estamos realmente usando todo o nosso potencial em favor de todos?

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Bibliografia

  1. Novelino, Corina; Eurípedes: o Homem e a Missão, Ide Editora, 18ª edição, julho, 2007.
  2. Rizzini, Jorge; Eurípedes Barsanulfo: o Apóstolo da Caridade, Edições Correio Fraterno, 3ª edição, 1981.
  3. Salomão, Almir; Eurípedes Barsanulpho: sob a Luz da História, PUC Goiás, 2ª edição, 2010.
  4. Bigheto, Alessandro Cesar; Eurípedes Barsanulfo, um educador espírita na Primeira República, Dissertação de Mestrado sob Orientação Prof. Dr. Sérgio Eduardo Montes Castanho, Unicamp – Campinas, 2006.
  5. Godoy, Lauret; Maravilhosos Encontros com Eurípedes Barsanulfo – Depoimentos, Editora Meca, 2ª edição, 2002.