Você já ouviu falar na Síndrome de Peter Pan? Será que você é mais uma pessoa sofre da síndrome? Neste artigo vamos explicar tudo que você precisa saber para lidar melhor com essa condição.

Há muitos “Peter Pans” por aí e você provavelmente conhece um. 

Peter Pan é um garoto, personagem principal do famoso conto de fadas escrito por James Matthew Barrie em 1904. O conto se passa na “terra do nunca”, um local mágico em que os meninos não envelhecem, e nem querem envelhecer. Eles vivem suas vidas repletas de aventura e diversão. Os vilões dessa história, são os únicos personagens adultos, que representam, no conto, a falta de criatividade e capacidade de sonhar tanto defendida pelos “meninos perdidos”, como são conhecidos Peter Pan e seu grupo de amigos.

Após conhecer o personagem já dá pra ter uma noção de como se comportariam os Peter Pans da vida real não dá? Foi por essa semelhança entre a história de ficção e os casos da vida real que a síndrome ganhou esse nome. Vejamos como ela surgiu.

Peter Pan representa a busca por permanecer em uma eterna infância

Em 1983, o psicólogo Dr. Dan Kiley (1942 – 1996), propôs a síndrome de Peter Pan com a publicação do livro “Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up”, ou “Síndrome de Peter Pan – Homens que nunca cresceram” em 1983.

A obra foi best seller em 22 países, inclusive no Brasil. Dr. Kiley desenvolveu sua tese a partir do tratamento de jovens que haviam sido detidos por pequenos crimes. Os atendimentos mostraram que muitos desses jovens tinham dificuldades de crescer e assumir responsabilidades como adultos.

Mas o que é a síndrome de Peter Pan?

A síndrome de Peter Pan é um conjunto de comportamentos imaturos que ocasionam a dificuldade em lidar com os desafios sociais e responsabilidades próprias da idade adulta e comumente identificada nos jovens adultos do gênero masculino, a síndrome tem como principal consequência a impotência social e a sensação de que a vida é uma grande perda de tempo demonstrada através de reações imaturas.

Os “homem-criança”, como se refere o propositor Dan Kiley, tentam esconder a tristeza advinda da impotência social atrás de jogos, esportes e ocasiões alegres. A causa principal da síndrome advém da assunção, ainda na infância, da responsabilidade sobre os desentendimentos dos pais.

Quais seriam as consequências desse comportamento no contexto familiar?

É bastante lógico afirmar que, se há problemas entre os pais, a não assunção de responsabilidades básicas e as posturas imaturas do jovem que experiencia a síndrome de Peter Pan não ajuda a solucionar esses problemas. A principal consequência é que, o ambiente familiar que já evitava assuntos delicados e não possuía a abertura para resolver os conflitos e problemas naturais de família, é reforçado pela imaturidade evidente do filho. Nesse caso, a manifestação do Peter Pan acaba por reforçar o fato gerador do problema.

Embora seja uma síndrome que possa ser trabalhada em psicanálise ou psicoterapias, não se trata de uma doença que conta no DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders).

Os 6 principais comportamentos que caracterizam a Síndrome de Peter Pan

Há 6 comportamentos principais que caracterizam a síndrome de Peter Pan, os 4 primeiros (Ansiedade, Irresponsabilidade, Solidão e Conflito quanto ao papel da sexualidade) são os comportamentos-base que acabam levando aos 2 últimos (Narcisismo e Chauvinismo):

1. Ansiedade

A postura acelerada, ansiosa e sem foco, ainda que na plena segurança do lar, é causada pela comunicação incompleta entre os pais. O desentendimento dos pais como casal, que optam por ficar juntos de maneira “mágica” em vez de resolver as diferenças, gera ambiente em que a comunicação não é clara nem integral, revelando de uma forma ou outra a existência de algum problema.

Dessa maneira a tensão do ambiente que não permite livre comunicação, acaba passando para o filho que sente a pressão da resolução do problema, pensando ser ele a própria causa.

2. Irresponsabilidade

 A manutenção de hábitos básicos de desorganização pessoal na adolescência é a raiz da rejeição ao amadurecimento e responsabilização. Por exemplo essa postura irresponsável nas tarefas simples se expande para as demais atribuições promovendo sua consolidação.

3. Solidão

Aos jovens vítimas da síndrome, a solidão se apresenta pela necessidade extrema de proximidade e contato humano. Por isso, com o objetivo de amenizar a solidão, as vítimas da síndrome buscam manter pessoas em seu entorno fingindo ser quem não são. Outro recurso comum é a utilização do dinheiro pessoal ou dos pais em troca de amizades.

4. Conflito quanto ao papel da sexualidade

Certamente irresponsabilidade e ansiedade minam a confiança e geram hesitação quanto a enfrentar o medo da rejeição de uma mulher ou correr de volta para o conforto da própria mãe, entendida como ambiente seguro.

Essa situação leva à postura de insensibilidade e indiferença quanto à mulher na tentativa de mascarar a insegurança interna. Dessa forma excesso de bebidas e uso de drogas, por vezes são utilizadas para gerar a coragem de se relacionar. 

5. Narcisismo

Os comportamentos descritos anteriormente formam um caráter frágil. O desenvolvimento do narcisismo através da busca pela perfeição é uma maneira de tentar compensar a fragilidade. Assim o narcisismo pode se apresentar por meio da exploração de amigos e conhecidos contando pequenas mentiras, alterando os fatos para tentar manter as pessoas próximas. 

Outra forma de apresentação do narcisismo é a extrema defesa frente à culpa. Essa forma de apresentação é marcada pelas inúmeras desculpas para não ter que assumir a responsabilidade por algo que tenha feito.

As vítimas da síndrome de Peter Pan sempre entenderão que chegaram atrasado porque havia muito congestionamento no trânsito, que esqueceram o guarda-chuva porque estavam tentando ajudar os amigos que estavam juntos, ou mesmo que não pagaram a conta em dia pois tiveram que ajudar um parente com dinheiro. Ao final, essa prática protege a visão de perfeição, onde não pode haver erro.

A inconsequência que normalmente leva ao abuso de drogas e ocasiona acidentes por imprudência são, também, formas de manifestação do narcisismo, ou seja, recursos utilizados para fugir do suposto “peso” de ser imperfeito.

A promiscuidade sexual é outro recurso utilizado para mesmo fim. A troca de parceiras sexuais como pontuação de conquistas reforça o ego potente e esconde a impressão de imperfeição.

As vítimas da síndrome de Peter Pan, em seu comportamento narcisista, ficam mais confortáveis quando suas parceiras mantém o afastamento emocional visto que qualquer aproximação poderia revelar falhas e imperfeições.

Normalmente, as vítimas da síndrome de Peter Pan não apresentam todas as características clássicas de perfil narcisista e eventualmente poderão agir de maneira diferente, encontrando uma parceira fixa de quem goste e se aproxime, sentindo culpa por erros cometidos e buscando melhoria, contudo, as características descritas embasam boa parte das causas das dificuldades vivenciadas.

6. Chauvinismo

O comportamento chauvinista, de defesa extrema de posicionamentos e opiniões, se apresenta de maneira mais clara no trato com mulheres.

A defesa da perfeição somada aos demais comportamentos explicados anteriormente reforça o tratamento ambíguo da mulher como uma pessoa importante, porém submissa às vontades do homem e responsável pelos problemas da casa, principalmente aqueles que não querem ser assumidos pela vítima da síndrome.

Em suma, culpar aos outros evita assumir as próprias responsabilidades.

Como saber se tenho a síndrome de Peter Pan?

Um senhor mais velho observando o próprio reflexo no espelho enquanto um rapaz jovem expressando o desejo de retornar à juventude

Se você ainda não se identificou nos comportamentos descritos anteriormente, há algumas consequências práticas da síndrome que caso você vivencie, podem indicar suas chances de ser vítima da síndrome.

Algumas dessas consequências serão exemplificadas a seguir.

Dificuldade na tomada de decisões

A indecisão excessiva quanto à escolha da carreira profissional pode ser causada pela síndrome de Peter Pan.

Em outras palavras, a indecisão pode ter como causa primária a dificuldade de assunção das responsabilidades da nova carreira, ou mesmo de abrir mão das demais opções e as consequências advindas disso.

A definição profissional é, de fato, uma decisão de vida importante que envolve muitas variáveis que não se pode controlar, por isso, deve ser observada com atenção. Você pode obter mais informações sobre esse assunto no artigo “O jovem e escolha da carreira profissional”.

Dificuldade em relacionamentos afetivos

A construção de relacionamento afetivo-sexual maduro é outra dificuldade para as vítimas da síndrome Peter Pan.

Isso ocorre, pois, o aprofundamento de uma relação à dois amplia naturalmente a expectativa dos envolvidos e explicita a responsabilidade de ambos quanto às próprias escolhas. Os hábitos imaturos antes escondidos passam a ser compartilhados com a parceira e consequentemente questionados. A pressão e ansiedade que envolvem esse desafio podem gerar posturas incompatíveis com um relacionamento maduro. Uma proposta de relacionamento maduro é explorada no artigo “Namoro e casamento ou dupla evolutiva”, caso o leitor queira saber mais.

A falta de planejamento para a realização dos objetivos pessoais aumenta as chances de fracasso. Não é difícil que pessoas concordem com essa afirmação, contudo, muitos ainda vivem sem qualquer tipo de planejamento.

Se você tem dificuldades de se planejar e acaba por não atingir seus objetivos por motivos que poderiam ter sido previstos em um planejamento, você pode estar sofrendo da síndrome de Peter Pan. No caso da síndrome esse processo é causado pelas irresponsabilidades quanto à organização básica, sustentadas desde a juventude. Mais informações sobre o planejamento de vida podem ser encontradas no artigo “Planejamento de vida desde juventude”.

Os efeitos da imaturidade ao longo da vida são muito diversos e a identificação de um desses efeitos não significa, necessariamente, a presença da síndrome de Peter Pan.

Se for possível identificar os comportamentos imaturos basilares (Ansiedade, Irresponsabilidade, Solidão e Conflito com o papel da sexualidade), incluindo os dois comportamentos consequentes (Narcisismo e Chauvinismo), e a percepção de que uma pessoa adulta não deveria passaria pelos problemas vivenciados, então, muito provavelmente, se trata de um caso de síndrome de Peter Pan.

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Como superar a síndrome de Peter Pan?

Amadurecendo subindo os degraus da vida

A superação da síndrome ocorre a partir da superação da imagem negativa pessoal. Em geral, na infância, por experiências em família, a vítima da síndrome compreende ser uma pessoa essencialmente ruim, sem valor. Em seguida, desenvolve-se a síndrome no empenho deslocado de lidar com o peso de ser uma pessoa ruim. A visão positiva de si mesmo aceitando as imperfeições pessoais é síntese do antídoto.

Segundo Dr. Kiley, quanto antes a síndrome é identificada melhores são os resultados do tratamento, contudo, o diagnóstico ocorre mais frequentemente quando as pessoas estão mais velhas.

Além disso acontece que, na idade juvenil, as imaturidades típicas da síndrome são consideradas normais pela sociedade e não causam estranheza. A pessoa que vivencia a síndrome de Peter Pan, somente será cobrada socialmente por suas posturas inadequadas quando seus hábitos e visão de mundo estão mais arraigados, reforçados por uma série de experiências precedentes que, ignoradas, acabam por reforçar o comportamento. Quando é o melhor momento de se tornar adulto?

Superação da síndrome de Peter Pan através da assunção de responsabilidade

As leis que determinam a atribuição de responsabilidade adulta a um indivíduo variam de país para país. No Brasil (2019), a maioridade é considerada a partir dos 18 anos. Antes dessa idade, a pessoa não pode ser responsabilizada integralmente por crimes e não pode dirigir veículo automotor. Nos EUA, a partir dos 16 anos, o jovem já é habilitado a dirigir veículo automotor, porém, apenas aos 21 anos é considerado maior de idade.

Embora existam padrões legislativos para a maioridade dentro dos limites de um país, nosso desenvolvimento não está limitado a um território, nossas experiências não são de bairros ou cidades, são experiências de pessoas e, pessoas precisam assumir responsabilidades em qualquer lugar.

Nesse sentido, não há prejuízos em assumir as responsabilidades que lhe cabem o quanto antes. Assumir responsabilidades cedo não significa a ausência de espaço para lazer e descontração. Significa, na verdade, buscar extrair o melhor possível de cada experiência observando o efeito dos nossos atos para outras pessoas e para o planeta. Por isso diferente da busca por perfeição do Peter Pan, a responsabilização precoce ajuda a lidar melhor com o erro e corrigi-lo o quanto antes, sem esconder ou negar a imperfeição. Em suma a responsabilização e a maturidade precoce são objeto de estudo da técnica da inversão existencial.

Superação através da Inversão Existencial

A técnica da inversão existencial (invéxis) é uma técnica que visa a profilaxia de posturas imaturas, justamente através da busca por maturidade desde a juventude, independentemente da maioridade legal e social.

Na técnica da inversão existencial o jovem adota o objetivo de viver de maneira precoce e planejada desde cedo facilitando a identificação de posturas imaturas e buscando a melhoria de sua condição pessoal para ter maior sucesso no alcance de seus objetivos.

Um dos objetivos principais da invéxis é antecipar a maturidade do jovem, de maneira que ele não precise esperar até a velhice para cumprir sua missão de vida, e sim já inicie as suas tarefas assistenciais a humanidade desde a juventude. O jovem que aplica a técnica da invéxis busca ter responsabilidades desde cedo para aumentar a sua experiência nesta vida humana o quanto antes, de maneira planejada.

A Associação Internacional de Inversão Existencial (ASSINVÉXIS) é a instituição dedicada ao estudo, pesquisa e divulgação da técnica da inversão existencial há mais de 15 anos, com sede em Foz do Iguaçu – PR. Para saber mais, acesse assinvexis.org/invexologia.

E você, já conhecia a Síndrome de Peter Pan?

Referências:

BARRIE, J. M. Peter and Wendy. 1ª. ed. Nova Iorque: Charles Scribner’s Sons, 1911.

KILEY, D. The Peter Pan Syndrome: Man who have never grown up. Nova Iorque: Dodd, Mead & Company, 1983.

NONATO, A. Inversão Existencial. 1ª. ed. Foz do Iguaçu: Editares, 2011.