Entenda os efeitos do uso de drogas na adolescência, principalmente as consequências no corpo físico e as vulnerabilidades que predispõem o jovem
A adolescência é uma fase da vida de transição entre a infância e a adultidade, onde a maioria das pessoas passam por experiências transformadoras. Muitas destas experiências são descobertas e frutos da necessidade do jovem de exploração e experimentação.
Durante a adolescência, ocorre a necessidade de formar as bases da própria personalidade, e por isso o jovem ainda precisa descobrir e vivenciar os seus valores, seu propósito de vida e as suas singularidades. Essa busca, muitas vezes, se dá de forma traumática, com a necessidade de negar os pais, podendo gerar angústias, incertezas e caracteriza a fase mais problemática da adolescência.
Os comportamentos rebeldes, as mudanças radicais nos atos e comportamentos, falas, vestimentas e no próprio corpo podem ser vistas como fruto da necessidade de autoconhecimento e autoafirmação do jovem em transição.
Na adolescência, o cérebro ainda não é totalmente maduro, e mudanças dramáticas nas estruturas cerebrais envolvidas nas emoções, no julgamento, organização do comportamento e autocontrole ocorrem entre a puberdade e o início da vida adulta. A propensão aos comportamentos de risco parecem resultar da interação, ainda não amadurecida, entre 2 redes neuronais: uma rede socioemocional, que é sensível aos estímulos sociais e emocionais, e uma rede de controle cognitivo, que regula a resposta aos estímulos. (STEINBERG, 2007)
Nesta fase da vida, o jovens podem estar mais sujeitos ou vulneráveis a tomar atitudes e fazer escolhas influenciadas pelos pares, em função da inexperiência, personalidade em formação e indefinição, ou falta de reflexão sobre os valores pessoais. (MATOS, 2019).
As relações entre os pares na juventude pode ser fonte de apoio emocional para os adolescentes, além de afeto, compreensão e orientação moral, formação de relacionamentos íntimos e experimentações. Devido à busca por trocas e confidências, os adolescentes confiam mais nos amigos que nos pais.
A influência do grupo, assim como irmãos mais velhos e seus amigos, no consumo de tabaco, bebida e drogas ilícitas foi comprovada por diversos estudos e bancos de dados (CASA: Center on Addiction and Substance Abuse). A incidência do primeiro contato e consumo dessas substâncias é significativamente maior por influência dos pares.
A sociedade estimula o consumo de substâncias e é conivente com o uso na adolescência. Isso ocorre por interesses da indústria, pressões culturais, maior prevalência de ansiedade e depressão entre os adolescentes na atualidade, dificuldade de as famílias lidarem com problemas de comunicação e pela banalização do uso e distribuição de drogas lícitas ou não, como a maconha.
Um levantamento sobre o uso de drogas na adolescência em estudantes de 1° e 2° grau em 10 capitais brasileiras, o CEBRID, informou que em 1993 80,5% dos estudantes usaram álcool e 28% usaram tabaco pelo menos uma vez na vida.
Evolução do Consumo de Drogas na Adolescência
Existe uma sucessão de etapas até o jovem efetivar a experimentação de uma droga. As 5 etapas de Mc Donald no uso das substâncias, segundo Silber 1998:
- Etapa 0: o adolescente vulnerável ao uso de substâncias sente curiosidade a respeito do uso das drogas.
- Etapa 1: o adolescente está apreendendo o uso de drogas.
- Etapa 2: o adolescente busca os efeitos da droga e controla a administração.
- Etapa 3: o adolescente está ensimesmado, concentrado nas mudanças dos seus estados anímicos e tornou-se farmacodependente (o uso das drogas é necessário para manter o bem estar).
- Etapa 4: o adolescente está no último estado de farmacodependência (crônico). Sofre usualmente de uma síndrome cerebral orgânica.
A vulnerabilidade ao uso de drogas na adolescência pode ser detectada muito antes do seu uso, através da observação do meio social, local de moradia, ambiente escolar, ambientes de lazer e contatos sociais e pelas companhias. Além disso, o jovem pode expor a curiosidade sobre o uso de drogas e a vontade de experimentar, ou a busca espontânea por locais e pessoas que o aproximem do contato.
Após o primeiro contato, muitas vezes até propiciado por familiares, o jovem passa por um período de controle ou administração, ainda em fase precoce da relação com as substâncias psicoativas, manifestando ainda receios, dúvidas ou exageros pela inexperiência.
Podemos mencionar alguns fatos problemáticos decorrentes do primeiro contato, segundo Silber, 1998:
- Quanto mais cedo um adolescente inicia o uso de uma substância, maior a probabilidade no aumento da quantidade e variedade do uso.
- Os adolescentes são menos capazes que os adultos de limitar o uso.
- O uso de substâncias ilegais e de substâncias lícitas por menores de idade constitui delito.
- Sinais e sintomas indesejáveis podem ocorrer somente com a progressão do uso, por isso é pouco provável que no início do consumo o jovem procure ou aceite ajuda.
Diante dos dados sobre o uso de drogas na adolescência, podemos concluir que as fases mais precoces do contato com as substâncias psicoativas são as mais críticas e as mais propícias a intervenções, quando o objetivo é prevenir dependência e os prejuízos físicos, mentais e sociais. Sendo este um problema de saúde pública e um indicador de qualidade de uma sociedade, são válidas as intervenções educativas por parte das famílias, instituições de educação e pela mídia.
Porém a responsabilidade por informar-se e refletir sobre o tema é do próprio jovem. Nesse sentido, ressalta-se a autocrítica, a reflexão sobre os próprios valores, objetivos de vida e o autodidatismo na busca por compreender os efeitos e prejuízos relacionados aos vícios e ao contato com substâncias psicoativas.
Você, leitor ou leitora, conhece os efeitos maléficos do uso de drogas? já pensou sobre a sua opção por evitar o uso das drogas na sua vida?
Caso haja interesse em mais leituras acerca deste tema, segue alguns artigos que possam interessar o leitor:
Drogas na adolescência: 4 fatos que você nunca ouviu falar sobre os riscos das drogas
Maconha: conheça os efeitos multidimensionais
A Adolescência sob a ótica da inversão existencial
Referências:
Silber, Tomás José; Souza, Ronald Pagnoncelli de.; Uso e abuso de drogas na adolescência: o que se deve saber e o que se pode fazer; Artigo; Adolescência Latinoamericana; 1(3):148-61, out.-dez. 1998.
Boletim CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – número 66; Agosto-Dezembro 2010; São Paulo, SP; Disponível em <https://www.cebrid.epm.br>; Acesso em: 01.12.2019;
Matos, Guilherme; Porão Consciencial, Grupalidade e Reciclagem das Amizades Ociosas; Artigo; GESTAÇÕES CONSCIENCIAIS: estudos sobre inversão existencial; Foz do Iguaçu, PR; ASSINVÉXIS; Vol. 9; 2019; Anais do XV CINVÉXIS; Páginas 25-34.
Steinberg, Laurence; Risk taking in adolescence: New perspectives from brain and behavioral Science; Article; Current Directions in Psychological Science; Vol. 16; N. 2; Association for Psychological Science;2007; páginas 55 a 59.
Papalia, Diane E.; Feldman, Ruth Duskin,;et al.; Desenvolvimento Humano; Revisão técnica Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva et al; 800 p.; 12. Ed.;AMGH;Porto Alegre, RS;2013; páginas 392
Center on Addiction and Substance Abuse at Columbia University (CASA). (1996, June). Substance abuse and the American woman. New York: Author.; Disponível em <https://www.centeronaddiction.org/addictionresearch/reports/substance-abuse-and-american-woman>; Acesso em: 04.10.2018.