William Pitt: o mais jovem primeiro-ministro inglês

William Pitt, O Novo, chamado assim para poder ser diferenciado do pai também de nome William Pitt – conhecido como “O Velho”, ou também Conde de Chatham – foi um político britânico do século XVIII que entrou para a história como o mais jovem a assumir o posto de primeiro-ministro do Reino Unido, quando ascendeu ao cargo com apenas 24 anos em 1783. Além de ser o mais jovem primeiro-ministro da histórica britânica, William Pitt também foi um dos que mais tempo passou no cargo, totalizando quase 19 anos.

A precocidade é uma de suas características mais marcantes, mas não a única, Pitt esteve à frente do governo britânico durante um período de grandes desafios e precisou utilizar muitas de suas capacidades para se manter no governo e realizar as políticas e reformas que considerava importantes para o desenvolvimento do país. Pitt, também tinha suas fragilidades, dedicava-se demais ao trabalho prejudicando sua vida social e sua saúde, além de ter o hábito de beber vinho diariamente. Dessomou – morte biológica – de forma prematura aos 46 anos provavelmente de úlcera péptica.

A biografia de William Pitt, O Novo, é fonte interessante de estudos para quem procura entender a técnica da invéxis sob o aspecto da precocidade e do desenvolvimento da maturidade. A história de Pitt oferece reflexões interessantes sobre como os jovens podem assumir e enfrentar grandes responsabilidades, mesmo antes de atingir a adultidade.

Importante ressaltar que William Pitt não era aplicante da técnica da invéxis. A inversão existencial é uma técnica de planejamento da vida humana que se estrutura no paradigma consciencial e tem o objetivo de otimizar a vida humana em função da realização da programação existencial, da prática precoce da assistência e da evolução consciencial. Não há qualquer evidência de que Pitt seguia os princípios que fundamentam a técnica.

A técnica da invéxis preconiza que a maturidade consciencial pode ser desenvolvida de forma antecipada, independente da maturidade biológica, e que o jovem pode se dedicar a projetos sérios que vão além do próprio ego desde a juventude. É sob estes aspectos que vamos analisar a biografia de William Pitt.

Infância e Adolescência

A infância e início da adolescência de Pitt foram centrados na educação familiar. Por decisão de seu pai, Pitt foi educado em casa pelo reverendo Edward Wilson. Sua inteligência e facilidade de aprendizado logo possibilitaram a ele torna-se proficiente em grego e latim. Um mês antes de completar 14 anos, Pitt foi admitido na Pembroke College, na Universidade de Cambridge onde deu continuidade a sua formação intelectual, estudando filosofia política, autores clássicos, matemática, trigonometria, química e história.

Aos 17 anos já estava se formando em Cambridge e aos 21 se licenciou para exercer o direito. Foi em Cambridge que Pitt conheceu político e abolicionista William Wilberforce com quem manteve amizade ao longo de toda a vida além de serem aliados no parlamento. Neste período já apresentava uma tendência a não fazer amizades além dos círculos de contato da Universidade, característica que se manteria ao longo de toda a vida, denotando ser mais fechado em seus relacionamentos interpessoais. 

William Pitt e a Carreira Política 

Depois de uma primeira derrota nas eleições parlamentares de 1780, no ano seguinte Pitt consegue se eleger aos 22 anos iniciando sua carreira política na Câmara dos Comuns. Logo no início de sua atuação parlamentar, William Pitt se destacou como excelente debatedor e no ano seguinte foi nomeado ao cargo de chanceler do tesouro. 

O contexto que levou William Pitt a ser primeiro-ministro do Reino Unido se formou a partir do enfraquecimento do governo do ministro anterior, Charles James Fox, quando este fracassou em aprovar o projeto para reformar a Companhia das Índias Orientais. Com a derrota na Câmara dos Lordes, o governo de coalizão de Fox foi demitido pelo rei George III que confiou a William Pitt o cargo de primeiro-ministro, na época com apenas 24 anos de idade. Detalhe interessante é que o rei já havia oferecido o cargo à Pitt outras três vezes, mas este não aceitou por considerar que nas três ocasiões anteriores a situação política do parlamento lhe seria desfavorável.

Por ser muito jovem, Pitt foi considerado pelos seus pares políticos da época como um primeiro-ministro de transição, alguém que em expressão da época era “torta de Natal”, ou seja, não duraria até o final daquele ano. Uma sátira foi escrita para criticar sua pouca idade frente de tamanha responsabilidade que o cargo impunha, a sátira tem um trecho que diz “um reino confiado aos cuidados de um menino de escola”.

O início de governo foi turbulento e Pitt precisou enfrentar uma oposição ferrenha e um voto de desconfiança do parlamento. Contudo ele foi capaz de suportar a pressão do cargo e permanecer a frente do governo britânico, contando com o apoio do rei.

Um dos primeiros desafios que precisou enfrentar foi a precariedade das finanças do Reino Unido que naquele momento havia dobrado sua dívida nacional por conta dos gastos durante a guerra de independência americana. Utilizou sua habilidade na gestão das finanças para executar um plano que permitiu em seis anos reduzir a dívida quase pela metade.

Contexto da época do governo William Pitt

William Pitt esteve no cargo de primeiro-ministro britânico em dois períodos, o primeiro mais longo de 1783 a 1801 e o segundo mais curto de 1804 a 1806, ano de sua morte. O ano de 1783 é o ano do fim da guerra de independência americana, e Pitt assume o cargo de primeiro-ministro 3 meses após o fim do conflito. Conforme explicitado anteriormente, esse fato teve peso muito importante no início de sua gestão exigindo um trabalho árduo no ajuste das contas públicas.

Outro fato importante que abalou o seu primeiro governo foi a crise de insanidade sofrida entre os anos de 1788 e 1789 que instaurou uma disputa pela regência do reino até que se resolvesse a questão de saúde do rei. Essa crise colocou em risco a continuidade de seu governo, mas antes que um regente fosse determinado para assumir o trono provisoriamente, o rei se recuperou e voltou as suas atividades de estado.

A Revolução Francesa iniciada em 1789, quando Pitt tinha trinta anos, levantou o temor nos demais países europeus quanto a continuidade dos regimes monárquicos. O medo era que a revolução inspirasse movimentos parecidos nos demais países. A revolução teve como efeito o início das Guerras Revolucionárias Francesas entre o período 1792 a 1802, em que os britânicos e franceses, junto aos seus aliados rivalizaram militarmente na defesa das suas ideologias, de um lado a manutenção da Monarquia Britânica e do outro a consolidação da República Francesa.

Outro ponto de forte instabilidade foram os conflitos na ilha da Irlanda que culminaram com a rebelião de 1798, que buscava retirar a ilha da influência britânica. Pitt atuou na repressão da rebelião e conduziu a questão de forma a instituir o Ato da União que incorporou a Irlanda oficialmente ao Reino Unido.

Sua segunda passagem pelo cargo de primeiro-ministro acontece de forma breve, e coincide com o início das Guerras Napoleônicas. Diante de tal crise ele, mesmo sendo aconselhado por médicos a se afastar do trabalho por conta do agravamento de seus problemas de saúde, ele insiste em manter-se no cargo até sua dessoma em 1806. O conflito só seria encerrado em 1815.

Análise biográfica de William Pitt

A biografia de William Pitt oferece uma amostra de como jovens podem enfrentar grandes responsabilidades, mesmo com pouca idade. Pitt foi questionado por ser muito jovem quando assumiu o governo, e era tido como alguém que duraria pouco como primeiro-ministro, mas teve competência para permanecer no cargo por 19 anos.

Exemplos como o de Pitt servem para refletirmos sobre a capacidade dos jovens em priorizar escolhas maduras e focar seus esforços em empreendimentos sérios. No século XXI, vivemos um momento em que a proposta feita aos jovens por ícones culturais e comerciais, seja no cinema, na literatura, na moda, ou na música é de que jovem deve deixar para amadurecer mais tarde. Isso é um erro, conforme Meg Jay aponta em seu livro A Idade Decisiva, deixar para fazer escolhas e assumir a maturidade mais tarde, tem efeitos desastrosos na construção da vida de qualquer pessoa. Pelo contrário, o ideal é que se assuma as responsabilidades mais cedo, fazendo da fase dos 20 aos 30 anos uma das mais importantes no amadurecimento e formação da personalidade.

Sob a ótica da invéxis, o desenvolvimento da maturidade dos indivíduos é uma questão que está além do campo da biologia. Antes de tudo, somos consciências em evolução, passamos por várias vidas antes de ressomar em um novo corpo físico e essa bagagem tem peso no modo como agimos e nos comportamos. Quando iniciamos uma nova vida, nossa consciência precisa se adaptar ao novo corpo, passamos pela infância e adolescência equilibrando os instintos biológicos, as influências do meio em que vivemos e nossa própria bagagem consciencial.

De acordo com a invéxis, o jovem pode optar por desenvolver sua maturidade desde cedo fazendo pesar a balança para sua bagagem consciencial, sobrepondo a influência do meio e da biologia. Isso é feito a partir do desenvolvimento do estudo e autodidatismo e por meio da assunção de responsabilidades.

A educação de Pitt somada a sua capacidade e dedicação para os estudos contribuíram para seu desenvolvimento. Apesar de ter passado por uma formação domiciliar no início da vida, a entrada precoce em Cambridge ofereceu condições para seu amadurecimento rápido além do contato com o ambiente político da cidade. Obviamente, o fato de as famílias de seu pai e sua mãe já terem ligação com a vida política do país pesaram muito na sua escolha pela carreira política, contudo seus posicionamentos sempre foram construídos de forma independente e com base em suas convicções.

Uma característica apontada pelos biógrafos de Pitt é que além de ser um grande orador, a defesa de suas ideias era feita de forma muito embasada e técnica, era considerado um político muito profissional. Além disso, era muito determinado e metódico em suas realizações.

Por outro lado, os aspectos relativos à sua saúde e sua vida social foram deixados de lado ao longo de sua vida enquanto se dedicava à vida política. Pitt teve ao longo da vida vários episódios de problemas relacionados a sua saúde e por diversas vezes, quando aconselhado a se afastar do trabalho para cuidar da saúde, ele preferiu ignorar os conselhos e seguir trabalhando. Outro fator que contribuiu para a deterioração de sua saúde foi o consumo excessivo de vinho, que lhe rendeu o apelido de “homem das três garrafas”. 

A técnica da inversão existencial propõe que o inversor estabeleça cuidados com sua saúde física e holossomática que permitam uma vida de longevidade produtiva. Pitt possuía brilhantismo político, mas teve sua vida encurtada pela falta de cuidado com a saúde, dessomando aos 46 anos de idade. Pela invéxis consideramos que o mais inteligente e a pessoa estabelecer hábitos que possibilitem chegar à terceira e quarta idade físicas com condições de manter a produtividade intelectual. Quando estamos nesse período da vida já acumulamos experiências o suficiente para produzir as obras escritas que sintetizem o máximo da nossa maturidade consciencial aplicada na vida humana. 

Outro aspecto da vida de Pitt que vale a pena observar é o fato de ele nunca ter se casado, o mais próximo disso foi uma suposta intenção de casamento com Eleanor Eden que ele rompeu enviando uma carta ao pai da jovem dizendo “Sinto-me compelido a dizer que considero os obstáculos decisivos e intransponíveis”. 

William Hague considera que o fator decisivo que contribuiu para uma vida social mais solitária para Pitt foi a dedicação intensa à política. “Tornar-se tão poderoso tão cedo na vida atrapalhou seu desenvolvimento como ser humano de outras maneiras, porque você não faz novos amigos ou interesses se está no centro do governo”, afirmou Hague em entrevista à BBC.

O desenvolvimento da conviviologia é outro aspecto importante na aplicação da invéxis. No que diz respeito ao relacionamento afetivo-sexual a proposta é a constituição da dupla evolutiva que se estrutura na formação de um casal com interesses evolutivos convergentes e que se apoiam mutuamente na realização de suas programações existenciais. Na dupla evolutiva, o desenvolvimento do afeto entre os dois é o laboratório para o desenvolvimento da interassistencialidade e da megafraternidade. Observando o que se sabe sobre a vida de Pitt, podemos supor que o aspecto da afetividade será um tema importante a ser desenvolvido em próximas vidas. 

Referências:

1. HAGUE, William, William Pitt, the Younger; Harper Perennial, 2ªEdição; Londres, Reino Unido, 2005.