Você sabe o que significa o termo pós-verdade? Segundo o dicionário de Oxford, pós-verdade significa  “algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais”.

Em 2016, pós-verdade foi eleita pela Oxford como a palavra do ano. Segundo Casper Grathwohl, presidente da Oxford Dictionaries: “Em uma época em que as crenças importam mais do que os fatos, a disseminação de notícias falsas ganha terreno, impulsionada pela internet, pela polarização política e pela crise de confiança nas instituições, eu não ficaria surpreso se ‘pós-verdade’ (post-truth, em inglês) se tornasse uma das palavras definidoras do nosso tempo”.

Em outras palavras, em uma época em que existe um excesso de informações e qualquer indivíduo, independente de sua formação ou credibilidade, consegue emitir uma opinião e torná-la pública para milhares de seguidores, as pessoas se veem perdidas no que é fato e no que é ficção, e por isso, acabam acreditando no que vai de encontro com suas crenças pessoais, e não do que realmente é verdade.

Nesse contexto, é importantíssimo para os jovens desenvolverem o senso crítico, ou seja, a capacidade de questionar e analisar de forma racional e inteligente as informações com as quais têm contato no dia a dia, seja através das interações presenciais com as outras pessoas ou nos meios virtuais.

Mecanismos de funcionamento da pós-verdade

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Mas como funciona o mecanismo da pós-verdade? Segundo a Psicologia, na linha da Terapia Cognitivo Comportamental, cada pessoa possui um sistema de crenças, opiniões e ideologias pessoais. Esse sistema foi construído ao longo dos anos a partir da experiência de cada indivíduo.

Essas crenças podem ter conotação positiva ou negativa de acordo com a experiência que a pessoa passou na sua vida. Uma pessoa, por exemplo, pode acreditar que é capaz de realizar tudo o que deseja realizar, se ela foi educada em um meio no qual era reforçada essa mensagem de que é uma pessoa capaz.

Por outro lado, se ela foi educada em um meio no qual ela era rebaixada e subestimada, ela pode desenvolver a crença de que não tem capacidade de realizar o que deseja. Lembrando que isso não é uma regra, apenas uma tendência.

Uma pessoa pode viver em um meio no qual determinada ideia é repetida várias e várias vezes e mesmo assim ela conseguir sobrepairar esse meio, caso ela não tenha pré-disposição para acreditar naquela ideia. Também existem aquelas ideias contidas na nossa paragenética, ou seja, a nossa genética de outras vidas.

Porém, em muitos casos essas ideias do meio são absorvidas e assim o indivíduo constrói o seu sistema de crenças. A pessoa não apenas constrói esse sistema com ideias relacionadas a si mesma, mas também em relação a tudo à sua volta: como a sociedade deveria funcionar, como o seu país deveria ser governado, como determinados grupos deveriam agir, etc. Normalmente o indivíduo cria uma ligação emocional com esse sistema de crenças que possui, uma espécie de apego, pois é algo que faz parte da sua identidade pessoal.

Para fazer a profilaxia dessas crenças, um princípio fundamental estudado na Conscienciologia é o Princípio da Descrença que diz: “Não acredite em nada, nem mesmo no que está lendo neste blog. Experimente. Tenha suas próprias experiências“. Esse princípio tem total relação com o senso crítico e o autodiscernimento, que vamos falar mais para frente.

Antes de existir a internet e o excesso de informações nas quais estamos imersos todos os dias, as mídias tradicionais, como os jornais impressos e televisivos, possuíam muita credibilidade. Em geral, o que era veiculado nesses meios não era tão questionado pelas pessoas, elas entendiam aquilo que era passado como fato, independente se o que era veiculado ia de encontro ou não com seu sistema de crenças.

Se uma pessoa tinha preferência por determinado político por exemplo, e era veiculado nessas mídias que aquele político foi condenado em um sistema de corrupção, havia menor resistência para acreditar que de fato o tal político era corrupto. É claro que, nos casos em que o sistema de crenças da pessoa era muito forte, essa pessoa poderia entrar numa dissonância cognitiva e procurar justificativas para o que aconteceu com o seu político predileto, porém na minha percepção era algo que ocorria em menor número.

Hoje em dia, com a popularização da internet, as mídias em geral se tornaram muito mais pulverizadas. Não existe mais apenas o jornal X ou Y no qual todas as pessoas se informam a partir deles, mas sim existem centenas de milhares de canais de informação nos quais os grupos de pessoas buscam se informar. E como atualmente as pessoas escolhem qual o melhor canal para se informarem sobre os acontecimentos da nossa sociedade?

Normalmente, elas escolhem os canais que já estão mais alinhados às suas crenças pessoais. Então, se uma pessoa já possui uma tendência política a determinada ideologia, ela vai se informar nos canais que reforçam mais essa ideologia, por exemplo.

É claro que mesmo antes da internet também já existiam nas mídia tradicionais aquela que possuía uma tendência X ou Y, porém era menos pulverizado e a credibilidade dessas mídias precisava ser mantida para continuar tendo boas vendas no mercado, então os fatos não poderiam ser tão distorcidos a ponto de determinado jornal, por exemplo, ser acusado de propagar notícias falsas.

Hoje muitos meios de informação nem sequer são monetizados, de maneira que uma pessoa pode criar um portal de notícias falsas apenas por diversão ou por má intenção, sem que tenha alguma penalidade por isso. Assim, em meio a tanta informação, uma pessoa pode procurar se informar em portais nos quais as informações veiculadas apenas reforçam as suas crenças pessoais, sendo essas informações verdadeiras ou não. O que importa é o vínculo emocional que se tem com essas informações. Ou seja, o fato se torna secundário nesse caso.

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Diversos acontecimentos dos últimos tempos demonstram esse mecanismo de funcionamento da pós-verdade ocorrendo na prática, porém um que se destacou foi a campanha para a saída do Reino Unido do bloco econômico da União Europeia, conhecido como Brexit. Todo o processo para manipulação dos britânicos em torno da votação pela saída do Reino Unido da União Europeia é retratado no filme “Brexit: The Uncivil War”, o qual recomendo assistir para entender na prática como funciona esse mecanismo.

Em resumo, os organizadores da campanha em favor da saída do Reino Unido da União Europeia mapearam determinado grupo de eleitores britânicos e quais eram as suas dores e frustrações, criando narrativas que iam de encontro com elas, e forçando um raciocínio de como a saída do Reino Unido desse bloco iria mudar as suas vidas para melhor.

Uma das mentiras veiculadas nesta campanha foi de que a permanência no bloco custava 470 milhões de dólares por semana ao país. Porém, para esse grupo de eleitores pouco importava a veracidade desse fato, o que realmente importava era acreditar que, por exemplo, eles não estavam sendo bem atendidos no sistema de saúde do Reino Unido porque o dinheiro que deveria ir para saúde estava indo para outros fins de interesse do bloco econômico, ou que eles apenas não estavam encontrando emprego facilmente no seu país porque a livre circulação de cidadãos europeus dentro dos países do bloco fazia com que seus empregos fossem “roubados” por estrangeiros.

Essas afirmações muitas vezes não eram confirmadas por estatísticas, porém somente o fato de consolar o emocional de milhões de cidadãos insatisfeitos com seu país, os faziam acreditar que era verdade.

Toda essa comoção nacional em torno do papel do Reino Unido na União Europeia acabou culminando na vitória dos votos em favor da saída do Reino Unido do bloco. Se esse movimento vai ser positivo ou não para o Reino Unido, só o tempo dirá, visto que é um acontecimento relativamente recente, iniciado em 2017.

Porém, vem crescendo insatisfações da população em relação às consequências dessa saída, visto que as frustrações e dores dos cidadãos que votaram a favor da saída não foram atendidas e pelo contrário, as burocracias criadas que antes não existiam justamente por causa da participação do Reino Unido ao bloco vem sendo alvo de queixas por parte da população.

Esse caso é uma ilustração de como o fenômeno da pós-verdade vem sendo usado, principalmente no meio político, para fazer manipulações em massa e conduzir movimentos para atendimento de interesses de um grupo específico, o qual possui poder o suficiente para criar estratégias midiáticas de propagação de fake news ou meia-verdades que vão de encontro ao emocional da população.

Pós-verdade, redes sociais e fake news

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As fake news são notícias falsas divulgadas como se fossem verdadeiras, normalmente apelando para o emocional dos leitores. Essas notícias vêm se alastrando cada vez mais, principalmente pela popularização das redes sociais. Nas redes sociais, existe pouca moderação em relação ao que é publicado nas plataformas.

Logo, se tornou o meio ideal para a divulgação de fake news, pois os propagadores desse tipo de notícia dificilmente recebem alguma punição. Por isso, a preocupação da sociedade em geral vem aumentando em relação a propagação de fake news nas redes sociais, pois a manipulação nesses meios pode chegar a níveis tão altos que podem influenciar o rumo de um país, por exemplo.

Isso pode ter sido justamente o que ocorreu na eleição do Donald Trump, em 2017, visto que sua campanha foi rodeada de divulgação de fake news nas redes sociais. Diretamente relacionado a isso, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg foi processado em 2022, pelo fato da rede social ter exposto dados pessoais dos usuários que foram usados na campanha do político.

Essas consequências geraram algumas ações das redes sociais em geral para combater as notícias falsas divulgadas em suas plataformas, porém ainda sim, é possível perceber que é um movimento de difícil contenção e as medidas aplicadas até o momento são insuficientes para esse objetivo.

Porém as fake news são apenas um aspecto da pós-verdade, existem diversas outras formas de manipulação que são características deste zeitgeist. Uma outra forma de manipulação é a divulgação de um fato verdadeiro relacionando com um outro fato que não tem relação direta, mas que é colocado de tal forma que o leitor fecha um raciocínio precipitado. Um exemplo disso é o caso do Panama Papers.

O Panama Papers foi um escândalo ocorrido em 2016, no qual foram vazados um grande volume de documentos confidenciais revelando a forma como algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo usam paraísos fiscais para ocultar fortunas a partir de um escritório de advocacia panamenho Mossak Fonseca.

Na época em que o escândalo foi divulgado, rodou o mundo várias listas com supostos clientes de tal escritório que se utilizaram de recursos ilegais para evitar sanções e fazer lavagem de dinheiro. Porém, obviamente, nem todo mundo que possui conta no Panamá necessariamente participa de ações ilegais.

No entanto, na época do escândalo, caso fosse divulgado que Fulano da Silva tinha conta no Panamá, as pessoas faziam o raciocínio precipitado de que esse Fulano participava das ações ilegais ocorridas a partir desse escritório. Se vermos os dois fatos isoladamente, o caso de centenas de pessoas estarem fazendo ações ilegais e o fato de Fulano da Silva ter uma conta no Panamá, ambos são verdadeiros. Porém, não necessariamente eles têm relação direta. Forçar essa relação no leitor também é uma forma de manipulação.

Senso crítico na pós-verdade

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O senso crítico, de acordo com o dicionário Aurélio, é a “capacidade de analisar, refletir ou buscar informações antes de tirar uma conclusão. É a tendência de quem não aceita automaticamente o que lhe é dito ou imposto”. Isso significa que a pessoa que possui senso crítico desenvolvido possui um filtro em relação às informações que chegam a sua mão, de maneira que vai procurar sempre analisar e refletir sobre aquilo que está recebendo de informação, sem aceitar automaticamente.

Essa é uma característica extremamente importante de ser desenvolvida na era da pós-verdade, principalmente pelo jovem que é o público que está mais imerso nesse excesso de informações. É sempre relevante parar e analisar as informações que recebemos, para verificar se tem lógica e pesquisar em mais fontes, principalmente fontes que são conhecidas como mais confiáveis.

Normalmente quanto menos senso crítico a pessoa tem, mais ela tem a tendência a divulgar fake news ou ser influenciada pela pós-verdade. A maioria das pessoas tem um parente ou conhece alguém que encaminha todas as notícias que recebe sem fazer uma verificação mínima da sua veracidade. Quando questionados, normalmente essas pessoas tendem a se defender, dizendo: “na dúvida, eu prefiro divulgar”. Essa atitude mostra um baixo grau de senso crítico e também de discernimento.

Divulgar notícias falsas é assediar as pessoas, é criar medo e ser antiassistencial. Quando a pessoa está nesse automatismo, infelizmente, está trabalhando para o assédio, pois através dessa divulgação das fake news, ela gera um sentimento de revolta nas pessoas em fatos que não são reais, além de caluniar os envolvidos na fake news. Ou seja, é um ato que vai contra a evolução das consciências. Porém não necessariamente a pessoa faz isso por má intenção, muitas vezes é fruto da ingenuidade e ignorância em relação a cosmoética.

Por isso, uma das características mais importantes para serem desenvolvidas pelo jovem através da técnica da inversão existencial é a autocrítica, que tem relação direta com o senso crítico.

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Inversão Existencial versus Pós-verdade

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A inversão existencial (invéxis) é a técnica de otimização máxima da vida humana, de maneira que a pessoa vai procurar exercer a assistência desde a juventude e iniciar a execução da sua programação existencial (proéxis) precocemente. Essa técnica, conforme foi falado acima, prevê o desenvolvimento da autocrítica, pois essa característica se refere a capacidade da pessoa se questionar o tempo todo em relação às suas vivências, aos fatos e parafatos (fatos extrafísicos) com os quais ela tem contato. A partir da autocrítica e do autodiscernimento, que se refere a capacidade de julgar e fazer distinções entre as realidades que vivenciamos, a pessoa consegue sobrepairar o zeitgeist da pós-verdade e tomar decisões que são mais alinhadas à evolução pessoal e grupal, sem ser mais uma vítima das manipulações de massa.

Outro fundamento da invéxis que ajuda bastante nesse processo é o autodidatismo. Com o autodidatismo, o jovem irá procurar se informar profundamente sobre diversos assuntos de interesse evolutivo, de maneira que aos poucos, em longo prazo, vai desenvolver a erudição pessoal.

Ter uma grande bagagem de conhecimento profundo ajuda na avaliação da qualidade da informação que chega até nós, de maneira que fica cada vez mais fácil avaliar se determinada informação tem consistência ou é superficial. Essa característica do autodidatismo junto com a autocrítica, é um bom combo de traços a serem desenvolvidos pelo inversor existencial, o que vai cada vez mais fundamentar a sua autonomia consciencial.

Em termos práticos, para evitar a influência da pós-verdade, ao ter contato com as informações acerca da sociedade no dia a dia, pode-se questionar:

  • A fonte dessa informação é confiável? Em quais outros lugares posso checar essa informação?
  • A maneira como está escrita está clara, e na medida do possível, mais imparcial? Ou ela está me induzindo a escolher um lado específico?
  • Quais são as percepções extrafísicas que percebo ao ter contato com essa informação? Qual o padrão energético dessa informação?

Esses são alguns questionamentos que você pode fazer ao ter contato com as informações no seu cotidiano, porém o mais interessante é investir no desenvolvimento dos atributos da autocrítica, autodiscernimento e autodidatismo para ter uma postura mais assistencial em relação ao nosso contexto atual.

E você, já conhecia o termo pós-verdade? Já vivenciou algum contexto relacionado a esse conceito?

Referências:

  1. Nonato, Alexandre; et al.; Inversão Existencial: Autoconhecimento, Assistência e Evolução desde a Juventude;pref. Waldo Vieira; 304 p.; 70 caps.; 17 E-mails; 62 enus; 16 fotos; 5 microbiografias; 7 tabs.; 17 websites; glos. 155 termos; 376 refs.; 1 apênd.; alf.; 23 x 16 cm; br.; Associação Internacional Editares; Foz do Iguaçu, PR; 2011.
  2. https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/internet-sob-o-dominio-da-pos-verdade/, acessado em 14//04/23 às 14:50.
  3. https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/o-que-sao-fake-news.htm,  acessado em 14//04/23 às 14:50.
  4. https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html, acessado em 14//04/23 às 14:52.
  5. Essa informação me gera algum tipo de emoção? Quais emoções me geram? Consigo avaliar essa informação do ponto de vista racional?